Dr. Rafael Amaral de Castro, CRM-DF 13827

CLÍNICA MÉDICA - RQE Nº: 9934
ONCOLOGIA CLÍNICA - RQE Nº: 10032

Entendendo a Via PI3K-AKT-MTOR: Importância no Tratamento do Câncer

Para quem busca ir além e entender em profundidade os tratamentos e pesquisas em oncologia, o blog da Neoaccess é o seu destino. Artigos completos, análises detalhadas e a visão especializada do Dr. Rafael Amaral de Castro para empoderar você com informação. Leia mais sobre a Via PI3K/AKT/mTOR e seu papel crucial na oncogênese, explorando os inibidores de PI3K, AKT e mTOR, como Alpelisibe, Capivasertibe e Everolimo, e como eles estão sendo aplicados no câncer de mama, carcinoma renal e outros tumores. Nosso objetivo é fornecer o conhecimento necessário para que você e sua família compreendam melhor as opções de tratamento e tomem decisões informadas. Acesse o site Neoaccess e explore um universo de informações confiáveis! Link: Instagram Neoaccess: www.instagram.com (@neoaccess.med) Instagram Rafael Castro Oncologista: @rafaelcastroonco Facebook Rafael Castro Oncologista: YouTube no canal: Neoaccess.med WhatsApp Business: 61981979192

Dr. Rafael Amaral de Castro

9/28/202511 min read

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A Via PI3K/AKT/mTOR: Uma Orquestra Celular Essencial e Seu Papel no Câncer

Imagine suas células como pequenas cidades, cada uma com sua própria infraestrutura e sistemas de comunicação. Dentro dessas cidades, existem "estradas" e "mensageiros" que transmitem informações cruciais para que tudo funcione bem: para a cidade crescer, se multiplicar, se alimentar e sobreviver. Uma das "estradas" mais importantes e movimentadas é a via PI3K/AKT/mTOR.

PI3K, AKT e mTOR são nomes de proteínas, como "estações de correio" ou "centros de comando" nessa estrada de comunicação. Juntas, elas orquestram processos vitais para nossas células:

Crescimento: Elas dão o sinal para a célula aumentar de tamanho.

Proliferação: Permitem que a célula se divida e crie novas células.

Metabolismo: Gerenciam como a célula obtém e usa energia.

Sobrevivência: Garantem que a célula não morra antes da hora.

Essa via é ativada por "fatores de crescimento", que são como "mensagens urgentes" que chegam de fora da célula, dizendo para ela se desenvolver. Em células saudáveis, essa orquestra funciona em perfeita harmonia, com controles rígidos para garantir que tudo aconteça no momento certo e na medida certa.

Quando a Orquestra Desafina: A Desregulação no Câncer

No entanto, no câncer, essa via PI3K/AKT/mTOR frequentemente se torna desregulada, ou seja, ela "desafina" e começa a funcionar de forma excessiva e descontrolada. É como se os centros de comando dessa estrada ficassem permanentemente ligados, mandando sinais de "cresça! prolifere! sobreviva!" sem parar.

Essa ativação exagerada é um dos principais "motores" que impulsionam o tumor. Ela dá às células cancerígenas uma enorme vantagem:

Proliferação Desenfreada: As células do câncer se dividem muito mais rapidamente do que o normal.

Aumento da Sobrevivência: Elas se tornam mais difíceis de serem eliminadas.

Resistência a Tratamentos: Essa via hiperativa pode até fazer com que o câncer responda menos a outras terapias.

Mas por que essa via se desregula? As causas são multifacetadas e, geralmente, envolvem:

Mutações no gene PIK3CA: Este é o gene que "instrui" a célula a produzir a proteína PI3K. Mutações aqui são as mais comuns e podem ser encontradas em muitos tipos de câncer, como no câncer de mama, onde cerca de 40% dos tumores RH-positivo/HER2-negativo as apresentam.

Mutações no gene AKT1: De forma similar, este gene é responsável por codificar a proteína AKT. Mutações aqui também podem levar à hiperativação.

Perda da função do gene supressor tumoral PTEN: O PTEN é como um "freio natural" dessa via. Quando ele para de funcionar, o freio é removido, e a via PI3K/AKT/mTOR acelera sem controle, promovendo o crescimento celular desordenado.

Como Identificamos Esses Problemas? A Importância dos Testes Genéticos

Felizmente, a medicina moderna nos permite identificar com precisão essas alterações. Usamos testes genéticos avançados, como o Sequenciamento de Nova Geração (NGS), que é como ler o "manual de instruções" da célula em busca de erros específicos. Esses testes podem ser feitos tanto em uma amostra do próprio tumor (tecido tumoral) quanto em uma amostra de sangue, onde buscamos o DNA tumoral circulante (ctDNA), que são pequenos pedaços de DNA liberados pelo tumor na corrente sanguínea.

A identificação dessas mutações é um passo decisivo. Ela nos permite entender melhor o seu câncer e, mais importante, escolher tratamentos mais eficazes e direcionados para o seu caso específico.

Uma Linha do Tempo de Esperança: Desenvolvendo Terapias Direcionadas

A compreensão da via PI3K/AKT/mTOR como um alvo no câncer começou no final do século XX. O grande desafio sempre foi criar medicamentos que bloqueassem essa via apenas nas células doentes, sem prejudicar demais as células saudáveis. Ao longo dos anos, a pesquisa avançou, e hoje temos inibidores (medicamentos que "bloqueiam" a via) cada vez mais seletivos e eficazes.

O everolimo, um inibidor de mTOR, foi um dos primeiros a ser aprovado para o câncer de mama, abrindo as portas para uma nova era de "terapias-alvo" – tratamentos que atacam especificamente as vulnerabilidades das células cancerígenas. Mais recentemente, surgiram inibidores ainda mais seletivos para PI3K (como alpelisibe e inavolisibe) e para AKT (como capivasertibe), permitindo uma abordagem ainda mais precisa.

A Via PI3K/AKT/mTOR no Câncer de Mama: Superando a Resistência

No câncer de mama, especialmente no tipo RH-positivo/HER2-negativo, as mutações no gene PIK3CA são as mais comuns. Mutações em AKT1 e alterações no PTEN também são importantes, mesmo que menos frequentes. O objetivo dos inibidores dessa via é "desligar" ou "frear" essa sinalização aberrante, buscando reverter a resistência que as células cancerígenas podem desenvolver e controlar o crescimento do tumor.

Vamos conhecer alguns desses importantes medicamentos:

Inibidores de PI3K: Alvos Precisos para Mutações Específicas

1. Alpelisibe (Inibidor de PI3Kα)

2. Como funciona? Ele age como um "bloqueador" seletivo da PI3K alfa, que é a parte da proteína PI3K mais frequentemente mutada no câncer de mama. Ao bloquear essa parte, ele reduz a proliferação (divisão) e a sobrevivência das células tumorais.

3. O que mostram os estudos? Um estudo muito importante chamado SOLAR-1 demonstrou que o Alpelisibe, quando combinado com outro medicamento (fulvestranto), melhorou significativamente o tempo de vida sem que a doença progredisse em pacientes com câncer de mama metastático RH-positivo/HER2-negativo que tinham a mutação PIK3CA.

4. Uso atual: É usado em casos de câncer de mama metastático com a mutação PIK3CA, em combinação com fulvestranto.

5. Efeitos colaterais: Os mais comuns incluem aumento de açúcar no sangue (hiperglicemia), erupções cutâneas e diarreia. Seu médico fará um acompanhamento rigoroso para gerenciar esses efeitos.

6. Inavolisibe (Inibidor de PI3Kα)

7. Como funciona? Similar ao Alpelisibe, é um inibidor oral seletivo da PI3K alfa, desenvolvido especificamente para atacar as mutações PIK3CA.

8. O que mostram os estudos? Estudos preliminares de fase 3, como o que combina Inavolisibe com Palbociclibe e Fulvestranto, mostraram resultados muito promissores, também melhorando a sobrevida livre de progressão em câncer de mama avançado com a mutação PIK3CA.

9. Uso atual: É uma promessa futura para o Brasil e poderá ser usado em combinação com outras terapias hormonais e inibidores de CDK4/6.

10. Efeitos colaterais: Podem incluir hiperglicemia, erupção cutânea, diarreia e problemas oculares, que também serão monitorados.

Inibidores de AKT: Agindo Mais Adiante na Via

1. Capivasertibe (Inibidor de AKT)

2. Como funciona? Este medicamento oral bloqueia a proteína AKT, ou seja, age em um ponto ligeiramente diferente da via PI3K/AKT/mTOR, um pouco "mais adiante" na cadeia de sinais.

3. O que mostram os estudos? O estudo CAPItello-291 mostrou um benefício notável na sobrevida livre de progressão em câncer de mama metastático RH-positivo/HER2-negativo que apresenta mutações PIK3CA, AKT1 ou PTEN, mesmo em pacientes que já haviam sido tratados com outros inibidores importantes (CDK4/6).

4. Uso atual: É usado em combinação com fulvestranto para pacientes com essas mutações específicas no cenário metastático.

5. Efeitos colaterais: Os mais comuns são diarreia, erupção cutânea, hiperglicemia e inflamação na boca (estomatite).

Inibidores de mTOR: Reguladores Chave do Crescimento Celular

1. Everolimo (Inibidor de mTOR)

2. Como funciona? Ele inibe a proteína mTOR, que está ainda "mais adiante" na via de sinalização PI3K/AKT. Ao bloqueá-la, ele afeta diretamente o crescimento e a divisão das células.

3. O que mostram os estudos? No câncer de mama, o estudo BOLERO-2 demonstrou que o everolimo, combinado com exemestano, melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão em pacientes com câncer de mama metastático RH-positivo/HER2-negativo que já não respondiam mais a outras terapias hormonais.

4. Uso atual: É uma opção em combinação com exemestano para pacientes com câncer de mama RH-positivo/HER2-negativo que tiveram falha a inibidores de aromatase (um tipo de terapia hormonal).

5. Efeitos colaterais: Os mais comuns são inflamação na boca (estomatite), erupções cutâneas, cansaço, diarreia e inflamação pulmonar não infecciosa (pneumonite).

A Via PI3K/AKT/mTOR no Câncer Renal: Outro Alvo Fundamental

A importância dessa via não se restringe ao câncer de mama. No carcinoma renal de células claras (ccRCC), o tipo mais comum de câncer de rim, a via PI3K-AKT-mTOR também é um alvo central e bem estabelecido. Alterações nela, como a ativação do AKT devido à diminuição da proteína PTEN, são frequentemente encontradas e estão ligadas à progressão do tumor e a um prognóstico menos favorável.

Inibidores de mTOR no ccRCC: Estratégias Essenciais

Para o câncer renal, os inibidores de mTOR, como o everolimo e o temsirolimo, são aprovados e agem bloqueando o mTOR, o que interfere no crescimento do tumor, na sua sobrevivência e na formação de novos vasos sanguíneos que o alimentam.

1. Temsirolimo

2. O que mostram os estudos? Foi o primeiro inibidor de mTOR aprovado para ccRCC com mau prognóstico. Estudos mostraram que ele melhorou a sobrevida global dos pacientes.

3. Uso atual: É um dos pilares atuais no tratamento do ccRCC metastático.

4. Everolimo

5. O que mostram os estudos? É aprovado para pacientes com ccRCC que já tentaram outros tratamentos sem sucesso. Ele demonstrou aumentar a sobrevida livre de progressão e controlar a doença em muitos pacientes, com um bom perfil de tolerabilidade.

6. Uso atual: Também é um pilar no tratamento do ccRCC metastático, especialmente após a falha de outras terapias.

7. Tanto o temsirolimo quanto o everolimo são referências sólidas, com evidências claras de melhora em desfechos importantes para os pacientes.

A Abrangência da Via PI3K/AKT/mTOR em Muitos Outros Tumores

A relevância da via PI3K-AKT-mTOR vai muito além do câncer de mama e do rim, sendo um alvo fundamental em uma vasta gama de outros tumores sólidos e hematológicos (do sangue). Mutações no PIK3CA, perda do PTEN ou ativação do AKT são observadas em cânceres como:

Câncer de Pulmão Não Pequenas Células: Inibidores dessa via estão sendo investigados, muitas vezes em combinação com quimioterapia.

Melanoma: Pesquisas pré-clínicas indicam o potencial de inibidores seletivos de PI3K, e a combinação com imunoterapia é uma área muito promissora.

Câncer de Ovário: Inibidores de PI3K e mTOR, como o everolimo, são testados, especialmente em tumores com perda de PTEN ou mutações PIK3CA.

Câncer Gástrico e Gastroesofágico: A pesquisa continua para encontrar as melhores estratégias.

Câncer de Cabeça e Pescoço: O everolimo mostrou algum benefício em certos tipos desse câncer.

Isso demonstra que essa via é um mecanismo central na formação de muitos cânceres, tornando-a um alvo terapêutico com um potencial muito amplo.

Aplicações em Diferentes Cenários de Tratamento

Os tratamentos que visam a via PI3K/AKT/mTOR não se limitam apenas ao câncer avançado. Eles estão sendo explorados em diferentes momentos da jornada do tratamento:

Cenário Neoadjuvante: Antes da cirurgia, alguns inibidores dessa via, combinados com quimioterapia, já mostraram resultados promissores em aumentar as chances de o tumor desaparecer completamente antes da operação em alguns cânceres agressivos.

Cenário Adjuvante: Após a cirurgia, a inibição de mTOR, por exemplo, está sendo estudada como uma terapia para tentar prevenir que o câncer retorne (recidiva), em tumores como o de pulmão e o glioblastoma.

Novidades e Perspectivas Futuras na Oncologia: Um Caminho de Esperança

O estudo da via PI3K/AKT/mTOR é um campo que não para de evoluir, trazendo avanços importantes para você:

Maior Seletividade: Os novos medicamentos estão sendo desenvolvidos para serem cada vez mais "inteligentes", agindo especificamente nas células doentes e minimizando os efeitos nas células saudáveis, o que melhora a eficácia e reduz os efeitos colaterais.

Combinações Estratégicas: Uma área de pesquisa muito "quente" é a combinação desses inibidores com imunoterapias (tratamentos que estimulam o próprio sistema imunológico a combater o câncer). O objetivo é potencializar a resposta do corpo contra o tumor em cânceres como melanoma, pulmão e tireoide.

Superando a Resistência: Entendemos que as células cancerígenas são muito adaptáveis e podem desenvolver resistência aos tratamentos. Por isso, a pesquisa está focada em criar abordagens que ataquem a via em múltiplos pontos ou combinem esses medicamentos com outras terapias, para que o tumor não encontre "rotas de fuga".

Personalização Terapêutica: Graças aos avanços como as biópsias líquidas (testes de sangue que buscam DNA do tumor), podemos identificar as mutações ativadoras de forma cada vez mais precisa. Isso permite ao seu médico personalizar o tratamento, escolhendo o inibidor mais adequado para o seu tipo específico de tumor, uma verdadeira medicina sob medida.

Conclusão: A Importância Estratégica Transversal da Via PI3K/AKT/mTOR

A via PI3K/AKT/mTOR é, sem dúvida, um dos alvos celulares mais promissores e estudados na oncologia atualmente. Sua ativação desregulada não é um evento isolado, mas uma característica comum e impulsionadora em uma vasta gama de tumores, abrangendo desde o câncer de mama e o carcinoma renal de células claras até cânceres de pulmão, ovário, melanoma e de cabeça e pescoço. Essa onipresença ressalta a importância fundamental da via como um mecanismo central na origem do câncer, tornando-a um alvo terapêutico de amplo espectro.

A capacidade de identificar mutações específicas através de técnicas avançadas como o sequenciamento de nova geração e as biópsias líquidas transformou a prática clínica, permitindo uma seleção de pacientes altamente cuidadosa para as terapias-alvo. O surgimento de inibidores cada vez mais seletivos para PI3K, AKT e mTOR tem demonstrado um impacto significativo na sobrevida livre de progressão (o tempo em que a doença permanece controlada) e na qualidade de vida dos pacientes em diversos cenários – metastático (doença avançada), neoadjuvante (antes da cirurgia) ou adjuvante (depois da cirurgia) – e em múltiplos tipos de câncer.

No entanto, o uso desses tratamentos exige uma atenção cuidadosa aos possíveis efeitos colaterais, especialmente os metabólicos e dermatológicos, e uma compreensão aprofundada de como essa via interage com outros sistemas de sinalização e com o sistema imunológico do tumor. A pesquisa continua incansável, buscando desvendar os mecanismos pelos quais o câncer desenvolve resistência, desenvolver novas combinações terapêuticas e aprimorar ainda mais a personalização do tratamento. O objetivo final é maximizar os benefícios clínicos e prolongar a vida dos nossos pacientes em todas as esferas da oncologia.

A via PI3K/AKT/mTOR representa, portanto, um campo de estudo dinâmico e uma promessa contínua para o futuro do tratamento oncológico. Para nós, oncologistas, isso significa a necessidade de um conhecimento constantemente atualizado e de uma abordagem estratégica e individualizada para cada paciente, sempre buscando a melhor chance de sucesso no combate ao câncer.

Espero que este material tenha sido útil para você entender um pouco mais sobre essa importante via e como a ciência trabalha incansavelmente para trazer novas esperanças e tratamentos.

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Atenciosamente,

DR. RAFAEL AMARAL DE CASTRO - Médico Oncologista